UMA
PROPOSTA
Aprender
investigando
Ninguém, conhecendo a real situação do ensino
no Brasil, contestará as seguintes afirmações que a cada momento são ouvidas:
“A escola não está ensinando bem”, “Os alunos não aprendem ou aprendem muito
pouco”, “Os professores sentem-se desestimulados e desvalorizados”.
Em face desses problemas declarados e
evidentes, existe, por todo o país, uma mobilização muito grande de educadores
preocupados com a busca de soluções que não sejam apenas paliativas, mas que
despertem a atenção dos responsáveis e apontem para uma visão pedagógica nova, capaz
de conduzir a novas concepções de um planejamento educacional e à descoberta de
uma pedagogia renovada, com atividades didáticas que possam modificar esse
sombrio panorama das escolas.
Por que a escola não ensina bem? Por que os
alunos aprendem pouco? Por que os professores sentem-se desestimulados? Por que
— depois de diversas experiências em todo o país — ainda não se fixou um modelo
de sistema educacional que satisfaça plenamente e que perdure?
Diante de tantas interrogações, não se pode chegar
a conclusões satisfatórias quando se considera a diversidade social existente
no país e quando se entende a educação como um processo dinâmico e passível de
renovação, na tentativa de atualizar-se para acompanhar as rápidas mutações que
acontecem na vida moderna, na ciência e na tecnologia.
“Enquanto o mundo lá fora, sobretudo a
economia, luta para acompanhar o ritmo das mudanças, a escola parece uma
trincheira tombada, fora de espaço e de tempo” (Demo 1992). Esse pensamento
Preocupante faz com que nos posicionemos diante de um futuro que está aí e que
exige rápidas mudanças no sistema de ensino atual para que:
• a escola deixe de ser
apenas a tradicional repassadora e cobradora de conteúdos para se tornar centro
de aprendizagem significativa desses
mesmos conteúdos;
• o professor abandone
a função de mero informador de conhecimentos para se tornar o condutor do aprender a aprender;
• o tradicional método
livresco não seja tão valorizado e se implante a dinâmica de trabalho investigativo com reflexão-descoberta-reflexão.
Felizmente, ideias novas vêm surgindo a cada
ano, e muitas já vêm sendo postas em prática, como objetivo de modificar a
situação que ainda prevalece. Uma das mais aceitas talvez tenha sido a
“Pedagogia de projetos” ou “trabalhar com projetos na escola”. Na verdade, essa
não é uma ideia nova — ela surgiu no início do século XX, nos Estados Unidos,
concebida pelo filósofo e educador John Dewey e desenvolvida por seu discípulo
Kilpatrick.
Aos poucos, esse método foi difundido com muita
aceitação na Europa e chegou até nós com os trabalhos de Miguel Arroyo,
aplicados à organização de conteúdos programáticos das disciplinas, em escolas de
Minas Gerais. Consistia a referida proposta, depois de aperfeiçoada e alterada,
em desenvolver trabalhos capazes de vincular a sala de aula à realidade social
na qual o aluno vive, para que ele pudesse entendê-la melhor, mostrando, assim,
que o processo de aprendizagem é um processo global, que integra o saber com o
fazer, a prática com a teoria, em outros termos, a pedagogia da palavra com a
pedagogia da ação.
Para concretizar essas ideias, propunha-se
selecionar temas ou problemas da realidade social da vida dos alunos, mesmo que
esses temas não fizessem parte das áreas das disciplinas curriculares
tradicionais. Seriam motivos temáticos a serem trabalhados, numa visão
interdisciplinar que globalizasse conteúdos escolares com assuntos da vida
cotidiana dos alunos, como:
• Aspectos da comunidade: organização
social, cultural, econômica, religiosa, política, administrativa; de saúde, de
lazer, de escolaridade, de segurança etc.
• Aspectos da escola: localização e
condições de funcionamento; aspectos administrativos, pedagógicos; clientela,
interação pais/escola, recursos didáticos ou materiais etc.
• Aspectos do meio ambiente: relacionados
a flora, fauna, preservação, educação ecológica; problemas de exploração e
fontes de benefícios etc.
• Aspectos da família: organização familiar,
tradições, ocupações, religiosidade, participação social, nível
socioeconômico-cultural, atividades/trabalho etc.
• Aspectos de etnia: origens da população,
predominância étnica, migrações, influências familiares, culturais, religiosas,
econômico-agrícolas etc.
• Aspectos pluriculturais: manifestações
variadas da tradição, da culinária, da religiosidade, do folclore, das artes
populares, dos costumes regionais etc.
A implementação da “Pedagogia de projetos” nas
escolas não implica a rejeição ou o abandono dos temas curriculares já
consagrados na programação escolar, nem o desprezo pelos chamados
temas-eventos, tão em uso em nossos cursos primários, como Dia das Mães, festas
juninas, Dia da Criança, Dia da Árvore, Dia do Índio etc. Essas datas
comemorativas são preservadas no planejamento escolar como propostas paralelas
e aglutinadas pela “Pedagogia de projetos”.
A grande vantagem desse procedimento, quando
posto em prática, é dar maior flexibilidade à organização dos currículos, uma
vez que trabalha com conteúdos integrados das várias disciplinas, numa proposta
moderna e progressista.
Atualmente são numerosas as publicações sobre a
“Pedagogia de projetos” e numerosas são também as escolas que já adotam essa
forma de organizar seus currículos, seguindo o exemplo do que aconteceu na
Espanha e os estudos que vêm sendo desenvolvidos na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e em outras universidades brasileiras.
Se refletirmos um pouco sobre o que se declara
e sobre o que frequentemente acontece ao final de cursos acadêmicos de
especialização, ou mesmo de cursos regulares universitários, perceberemos
queixas do tipo: “Não sei fazer o projeto de pesquisa que me pedem”, “Não sei
nem por onde começar a monografia que devo apresentar — nunca me ensinaram a
praticar a metodologia para elaborar e realizar uma pesquisa, um trabalho
acadêmico, um relatório de estudo” etc. Essas declarações preocupam quem se
dedica ao magistério e induzem a perguntar:
• por
que não ensinar, a partir do ciclo básico, algumas noções elementares de como
elaborar e organizar projetos simples de pesquisa?
• por
que não se orienta a criança, já nas primeiras séries, a utilizar alguns
métodos científicos, para aprender a dominá-los, desde cedo, no estudo e na
investigação das coisas, de maneira sistematizada?
• por
que não explicar aos alunos como refletir sobre problemas da vida deles e como
investigá-los pela observação, pela formulação de hipóteses e como colher dados
e informações para comprová-las?
• se os
projetos de trabalho já são aceitos como formas de organizar os currículos, por
que não aproveitar esse caminho para introduzir alguns na programação escolar?
São respostas a questões desse tipo que
orientaram as ideias neste livro. Propomos nele um caminho que representa o significado
verdadeiro de trabalhar com pesquisa como estudo compartilhado, ou
transdisciplinar, envolvendo matérias diversas na exploração de campos de saber
que, em geral, estão fora da programação escolar.
A intenção, ao elaborar esta proposta, foi adaptar
a metodologia da “Pedagogia de projetos” a outro enfoque e direcioná-la para
que os projetos orientados pelos métodos da ciência sejam, assim, realizados
corretamente como preparação para o futuro universitário do aluno.
Aborda-se no livro o aspecto multidisciplinar
ou globalizado que vem sendo muito discutido e comentado nos últimos anos e
que, na verdade, representa o conhecimento cientifico atual como um
“conglomerado de saberes” de várias áreas disciplinares.
Basta ver programas de TV, ler artigos de
revistas de grande circulação, acompanhar a divulgação de temáticas de eventos
profissionais para perceber como evolui em efervescente revolução o
conhecimento no mundo. O aluno quer saber mais detalhes sobre o que vê na
televisão e o que acontece a seu redor, sobre o que ouve comentar e observa na
Internet; ele questiona os professores e pede explicações para aprender como
praticar tudo isso na vida real, enfim, como praticar a teoria.
A escola sofre pressões de todas essas
manifestações culturais e por isso tem que se preparar e organizar seus
currículos disciplinares dentro dessa visão globalizante de saberes e da
perspectiva futura da vida humana.
A maneira de tratar o conhecimento deve ser
reorganizada. Os aspectos tecnológicos, científicos e filosóficos têm que ser
levados em conta, pois eles já comandam o futuro profissional dos alunos. As
novas teorias pedagógico-educacionais surgidas mostram que o conhecimento a ser
perseguido na atualidade pela escola não é mais aquele compartimentado e
estanque, mas o saber globalizado, que considera todos os aspectos da vida e
possibilita acompanhar o avanço do mundo de hoje.
Se a perspectiva de Dewey e Kilpatrik, nos EUA,
de Freinet, na França, de Santomé e Hernández, na Espanha, de Ana Maria
Haufman, na Argentina, e de Miguel Arroyo e Monique Deheinzelin, no Brasil,
quanto aos “projetos de trabalho na escola”, era de organizar os currículos
escolares aproximando-os da vida real do aluno, considerando a escola como
espaço aberto, o que eles pretendiam, na verdade, era possibilitar maior
integração dela com a comunidade. Era dar ao estudante oportunidade para
refletir sobre os problemas que encontra diariamente e conduzi-lo à busca de
soluções desses problemas, aproveitando os conteúdos disciplinares aprendidos
em sala de aula.
Mas como fazer isso? Como pôr em prática tão
belas ideias? Embora os mentores dessa pedagogia tenham deixado o
desenvolvimento dos projetos a critério dos professores, de acordo com suas
necessidades contextuais e sua criatividade, uma resposta a essa dúvida poderia
ser: pela pesquisa organizada de acordo com algumas atitudes científicas
orientadas pelo professor. Exatamente esse é o caminho que apresentamos e
explicamos ao longo das páginas deste livro.
Contudo, aqueles que desejam implantar e
incrementar, nas escolas onde trabalham, essa forma de ensino e aprendizagem
devem se convencer de que esse trabalho não pode ser realizado de forma empírica,
ou intuitiva, mas talvez exija um replanejamento das atividades já programadas
na escola.
O sentido prático e com forma mais organizada
envolvendo conteúdos multidisciplinares que representam a nova metodologia do
“como fazer” poderá ser expresso neste gráfico:
REFLEXÃO |
AÇÃO |
REFLEXÃO |
Sobre
o que se observa na realidade |
O
que pesquisar? Por
que fazer? Com
quem fazer? Para
que fazer? Como
fazer? O
que se espera? |
Analisar Deduzir Tirar
conclusões |
A forma metódica do trabalho é dada num roteiro
que se inicia tom a seleção e a definição de:
• o quê? — O tema ou assunto a ser trabalhado.
• por
que se quer fazer esse trabalho ou estudo? — Os propósitos ou finalidades a
serem determinados para levar o aluno a expressar o que sabe sobre o tema, a
formular suas hipóteses e a dizer o que mais quer saber.
• para
que se fará esse trabalho? — O objetivo pode ser a capacitação dos alunos para
a prática do que aprenderam, o domínio e o aprofundamento dos conhecimentos e
conceitos básicos relacionados ao tema do trabalho.
• como
deve ser feito o trabalho? — Os procedimentos a utilizar, possibilitando aos
alunos a observação da realidade e a busca, nas fontes, de dados ou informações
sobre o tema, para que possam comprovar suas hipóteses, organizá-las,
analisá-las e tirar conclusões de seus resultados.
Essas posturas modernas de ensinar, por meio do
trabalho com projetos, já estão sendo adotadas em muitas escolas que mudaram
sua antiga filosofia de atuar e mesmo em outras que apenas perseguiam o
imediatismo dos resultados e passaram a se preocupar com a formação do homem integral
do futuro.
Mas para reverter a situação que ainda
predomina no ensino e tornar essa estratégia eficaz, será preciso que ela se
manifeste na forma de mudanças de atitudes do professor, que deixará de dar
receitas prontas a seus alunos e aplicará, sobretudo, o questionamento. Na
investigação do saber, o professor torna-se, tão-somente, o orientador e o
facilitador do processo de aprender centrado no aluno.
A criança também quer mudanças, não aceita o
imobilismo. Como é curiosa por natureza, questiona tudo e quer saber o porquê
de tudo. Deve-se, assim, aproveitar essa qualidade para, a partir do ensino
básico, iniciá-la na prática da pesquisa e dessa maneira conduzi-la, como
cientista mirim e agente da própria formação, nos conhecimentos que deverá
assimilar e incorporar, aos poucos, ao seu processo de crescimento intelectual.
Educar
pela pesquisa é o que se deseja
Pedro Demo (1998a), autor do livro com esse
título, afirma no início que educar pela pesquisa é um enfoque propedêutico,
ligado ao desafio de construir a capacidade de reconstruir, na educação básica
e superior. “É um desafio voltado para considerar a pesquisa como maneira de
educar”. Diz ainda: “A base da educação escolar é a pesquisa. (...) Onde não
aparece o questionamento reconstrutivo, não emerge a propriedade educativa
escolar” (Demo 1998a, p. 27). A pesquisa busca o conhecimento, para poder agir
na base do saber pensar.
Muitos se queixam dos sistemas educacionais
vigentes por não apresentarem soluções imediatas, sobretudo para os problemas
de alfabetização e para o fracasso escolar alarmante no país, mas,
infelizmente, poucos consideram que as soluções podem vir mais de nós
educadores, do que dos legisladores educacionais.
A intenção dessa proposta é fazer refletir
sobre a aplicação da pedagogia investigativa em sala de aula, isto é, do
“aprender pela pesquisa”, e concordamos plenamente com Pedro Demo que o
trabalho com pesquisa na escola, além de dar sentido científico às tarefas, é
altamente educativo, pois envolve o aluno, fazendo-o deixar de ser ouvinte
repetidor de conteúdos e passe a agir e a refletir com consciência crítica
diante dos fatos estudados.
É pela utilização da pesquisa que se efetiva o
processo “reconstrutivo do conhecimento” por meio do questionamento contínuo da
realidade e do uso dos meios investigativos apropriados à busca do saber.
A característica fundamental da prática da
pesquisa na escola é o interrogar reconstrutivo, quer dizer, a passagem do
aluno passivo, receptor apenas, para o papel de sujeito participativo e
operante no desenvolvimento de seu conhecimento — aquele aluno que aprende a
superar a condição de “massa de manobra”, para se transformar em agente da própria
aprendizagem, como crítico e inovador, no dizer de Pedro Demo.
“O professor não modifica ninguém, o aluno é
que se modifica quando aprende”, já afirmou o educador Edson Franco (1989).
O trabalho com pesquisa, por meio de
miniprojetos, deve ser desenvolvido em sala de aula para favorecer a formação
do raciocínio e da reflexão nos alunos, conduzindo-os a ver as coisas com
outros olhos e de maneira diferente, aprendendo a identificá-las e a
relacioná-las.
Essa modalidade pedagógica destina-se a
estabelecer o equilíbrio entre o pensamento científico e o desenvolvimento
humano pela aplicação de uma metodologia assentada no tripé: curiosidade,
investigação e descoberta.
A curiosidade despertada e motivada pelo
professor conduzirá o aluno ao desejo de saber e conhecer melhor o assunto a
ser investigado. A investigação devidamente orientada pelo professor pela
aplicação de procedimentos sistematizados destina-se a levar o aluno a explorar
o assunto pela leitura, pelas entrevistas pela observação da realidade. A descoberta,
como alvo, é a realização maior do prazer cultural e da satisfação do aluno em,
por ele mesmo, atingir o conhecimento desejado.
Submetido a essas técnicas de ensinar a ver e
estudar as coisas, ele nunca mais esquecerá os conhecimentos adquiridos. Essa é
a verdadeira aprendizagem que se quer implantar. Esse é o verdadeiro objetivo
da pesquisa.
É bom lembrar que qualquer pesquisa, por mais
simples que seja, destina-se a “produzir conhecimento”, e esse caminho será a
maneira mais fácil e agradável de o aluno conhecer e adquirir o verdadeiro
saber. O professor deverá interrogar os alunos para induzi-los a dar respostas.
Essas respostas (hipóteses ou suposições) serão baseadas no senso comum ou nos
modelos que os alunos conhecem, mas, depois de testá-las ou comprovar sua
veracidade, eles aos poucos irão dando respostas diferentes, talvez mais
científicas do que as primeiras, que provocarão debates ou novos
questionamentos.
Realizar um trabalho desse tipo é conduzir os
alunos à elaboração e à reconstrução de seus conhecimentos, à mudança de suas
concepções sobre os fatos do mundo, fazendo com que tenham uma visão mais
crítica e diferente das coisas que os cercam.
A verdadeira aprendizagem se dá pela
assimilação significativa de conhecimentos — a teoria originando-se da prática
e retornando a ela para ser aplicada na vida por novos caminhos.
Referenciais teóricos em que se apoia a
proposta
Entendendo que, sem um referencial teórico, a
proposta aqui apresentada cairia no empirismo, no intuitivo, não contribuindo
suficientemente para a melhoria do conhecimento das coisas, temos a obrigação
de lhe dar o embasamento conceitual que lhe servirá de apoio, com a inclusão de
excertos de alguns autores para fundamentar e reforçar a compreensão da proposta
e esclarecer o que nela é apresentado.
Antes de qualquer coisa, esclarecemos que todas
as ideias nela expostas tiveram como ponto de partida os princípios da educação
divulgados pela Unesco:
• aprender a conhecer;
• aprender a fazer;
• aprender a viver com os outros;
• aprender a ser.
Fizemos consultas à nova Lei de Diretrizes e
Bases do MEC e descobrimos que, em seu artigo 32, incisos de I a IV, são
destacados princípios essenciais da educação que reforçam o direito constitucional
do aluno em relação à sua formação básica, para que, como cidadão:
• possa desenvolver a capacidade de aprender;
• possa compreender o ambiente natural e social
onde vive;
• possa desenvolver sua capacidade de
aprendizagem;
• possa fortalecer os laços de solidariedade e
de relações interpessoais.
Apoiamo-nos também nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), que propõem que as escolas construam “um currículo baseado no
domínio de competência e não no acúmulo de informações”, enfatizando ainda que
“o que se. ensina deve ter vínculo com os diversos contextos da vida do aluno”,
portanto ele deve ter “conectado o que se ensina a problemas, fatos e
circunstâncias de sua vida”, capacitando-se assim a realizar o verdadeiro
exercício da cidadania e da consciência social.
Para atender a esses ditames legais,
aconselhamos que os primeiros projetos a serem realizados pelos alunos
relacionem-se com os temas transversais apontados nos PCNs, como saúde, ética,
cidadania, pluralidade cultural, sexualidade, relações interpessoais, e muitos
outros extraclasse que os professores apontarão.
Na parte prática deste manual, apresentamos
também alguns projetos já esquematizados, cujos temas estão voltados para essas
relações vivenciadas pelos próprios alunos como: “Nossa escola”, “Trabalho e
comunidade”, “Cidadania”. “Meio ambiente” etc.
Além dessa preocupação com as diretrizes
educacionais voltadas para a formação social do aluno como integrante e
participante de uma comunidade, diversos autores que aprofundaram o assunto do
trabalho escolar com projetos foram consultados, como Hernández e Monserrat (1998a,
p. 61), que mostram que projeto não é metodologia mas apenas uma forma de criar
estratégias, organizar e articular informações sobre um determinado tema,
cabendo aos alunos desenvolvê-lo, compreendê-lo e assimilá-lo.
Os autores destacam que “o princípio da
aprendizagem por descoberta, (....) por parte dos alunos é mais positivo quando
emana daquilo que lhes interessa e aprendem da experiência daquilo que
descobrem por si mesmos” (idem, p. 64).
Hernández detalha muito a organização de
projetos como estratégias de aprendizagem, e enfatiza a interdisciplinaridade
como somatório de matérias num trabalho com projetos, diferenciando-a de
globalização, termo que considera mais adequado em se tratando de organização
de conhecimentos; por último, apresenta alguns modelos de projetos que podem
ser aplicados com um certa flexibilidade e de forma muito aberta, sem lhes dar
o sentido de pesquisa sistemática, como nós propomos.
Os manuais da Editora FTD “História da
filosofia”, “Didática”, “Ensino e aprendizagem” e a coleção “Conteúdo e
Metodologia”, de 1999, são de uma riqueza muito grande e nos serviram
proveitosamente, uma vez que neles são mostrados e explicados temas a serem
explorados pelos alunos com a orientação do professor.
Em “História da filosofia”, afirma o autor
Antônio J. Severino (1999, p. 92):
O
objetivo essencial da Educação, a sua intencionalidade básica, numa sociedade
historicamente determinada, é inserir os educandos no tríplice universo de suas
mediações:
•
no universo do trabalho, da produção material das relações econômicas e
produtivas — esfera do fazer técnico;
•
no universo da sociabilidade e suas mediações institucionais, âmbito das
relações políticas — esfera do poder;
•
no universo da cultura simbólica e simbolização subjetiva, âmbito da
consciência pessoal, da subjetividade das relações intencionais — esfera do
saber.
São ideias valiosas — sobre as quais nos
apoiamos — a respeito da utilidade dos projetos como preparação do futuro
profissional, que demonstram preocupação em despertar o interesse dos alunos
pelos problemas de seu dia-a-dia e a consciência de que devem se preparar para
solucioná-los, demonstrando, dessa forma, sua parcela de colaboração e participação
dentro da comunidade.
Outros autores serviram de base a este nosso
estudo, como Bastos e Keller (1999), Demo (1993; 1998a; 1998b) e Bagno (1999).
Segundo André (1989, p. 39), “o estudo do
cotidiano escolar se coloca como fundamental para compreender como a escola
desempenha seu papel socializador. (...) e como a escola participa do processo
de socialização dos sujeitos que são, ao mesmo tempo, determinados e
determinantes”. Servimo-nos desse pensamento para mostrar que trabalhar com
projetos na escola é formar e exercitar o aluno na prática coletiva da
cidadania, fazendo-o refletir sobre as situações difíceis e conflituosas que a
cada passo encontra na família e na comunidade e sobre as maneiras de intervir
nelas de forma concreta.
Demo (1998a, p. 2) afirma, categoricamente:
a
pesquisa na escola é uma maneira de educar e uma estratégia que facilita
a
educação (...) e a consideramos uma necessidade da cidadania moderna.
(...)
Educar pela pesquisa é um enfoque propedêutico, ligado ao desafio de
construir
a capacidade de reconstruir, na educação básica e superior... (...) É um desafio
voltado para considerar a pesquisa como maneira de educar.
Enfatiza ainda Demo (idem, ibidem):
(...)
a base da educação escolar é a pesquisa... (p. 6). (...) A pesquisa busca na
prática a renovação da teoria e na teoria a renovação da prática... (p. 9). (...)
A pesquisa supõe ambiente de liberdade de expressão, crítica e criatividade ) o
aluno não vai à escola para assistir à aula, mas para pesquisar,
compreendendo-se, por isso, que sua tarefa crucial é ser parceiro de trabalho,
não ouvinte domesticado. (...) O que se aprende na escola deve aparecer na vida
(p. 17). (...) A pesquisa persegue o conhecimento novo, privilegiando como seu
método o questionamento sistemático crítico e criativo... (p. 9).
Estamos em consonância com o autor, pois, como
ele, queremos uma escola mais aberta à comunidade, em que todos participem
dessa imensa tarefa de educar, com base na reflexão sobre os problemas que
estão aí.
Pedro Demo afirma categoricamente que pesquisa
na escola é uma maneira de educar e uma estratégia que facilita a educação. Ele
considera a pesquisa imprescindível na formação do estudante. Segundo ele, “a
pesquisa é a verdadeira fonte do conhecimento”. Para o autor, a pesquisa
“pretende, através da reconstrução do conhecimento, manter a inovação como
processo permanente para poder agir na base do saber pensar”. Segundo ele, “a
pesquisa estrutura-se como o eixo catalisador, funcionando como impulso da
criatividade do aluno e núcleo disciplinador da produção do saber”.
Para Perini (1996, p. 31), “o estudante
brasileiro é tipicamente diferente, submisso à autoridade acadêmica, convencido
de que a verdade se encontra, pronta e acabada, nos livros e na cabeça das
autoridades”. Essa opinião revela a falta de um melhor preparo dos alunos e a
ausência de iniciação científica no ensino básico, como promotora de
criatividade e de abertura de novos caminhos na busca do saber e como formadora
de consciência crítica perante os fatos.
O estudante não sabe o que fazer fora daquilo
que lhe é ensinado na escola e aceita e submete-se a todas as informações que
lhe são servidas prontas, sem discussão nem comprovação. Acaba tornando-se
“massa de manobra” e de manipulação, nem crítico, nem criador.
Perini (1996) considera a pesquisa
imprescindível na formação do estudante e diz que ela é a verdadeira fonte do
conhecimento. Para o autor, a pesquisa “pretende, através da reconstrução do
conhecimento, manter a inovação como processo permanente para poder agir na
base do saber pensar”. O autor afirma ainda no mesmo texto que “a educação
deverá ser, em primeiro lugar, a procura do conhecimento pelo desenvolvimento
de habilidades”. E Demo (1998a, p. 30) completa: “O aluno-objeto é aquele que
só escuta aula e a reproduz na prova, O aluno-sujeito é aquele que trabalha com
o professor, participa ativamente”.
Serviram-nos ainda de fundamentação Vasconcellos
(1995) e Franco (1989). Esses autores, com suas obras sobre educação, e muitos
outros dão apoio e sobretudo segurança às ideias aqui expostas. Todos eles
defendem uma urgente renovação da escola em seus métodos de ensinar e de
preparar o aluno para desempenhar seu papel na sociedade como “sujeito
histórico” para que, cedo ou tarde, seja integrado plenamente na comunidade e
inserido no mercado de trabalho.
As contundentes palavras de quem escreveu sobre
o assunto induzem-nos a refletir mais profundamente sobre as mudanças que a
educação moderna vem exigindo, direcionadas para a existência de uma relação
direta entre o que é ensinado e a vida prática do aluno.
Aos diretores de escolas e autoridades
educacionais cabe decidir sobre a necessidade dessa renovação no ensino e da
urgente capacitação dos professores — sobretudo daqueles que labutam
denodadamente no ensino básico — e preparar um ambiente positivo de trabalho
coletivo e de orientação motivadora.
Mais do que o ensino, a aplicação da pesquisa
na escola conduz ao domínio das habilidades didáticas renovadoras pela
discussão, pela leitura, pela observação, pela coleta de dados para comprovação
de conjecturas sobre os fatos, pela análise criativa de deduções e conclusões
e, sobretudo, pela reconstrução do conhecimento a partir daquilo que os alunos
já sabem e da elaboração criativa pessoal, conjugando a teoria com a prática,
uma vez que o processo reconstrutivo começa na busca e no questionamento pela
pesquisa.
“É através da práxis que se educa” e “a
educação é uma prática social” (Severino 1992, pp. 62 e 70).
Tudo na pesquisa elementar ou simples na escola
primária funciona em torno de dois elementos: o assunto temático e os
procedimentos para aprofundar o conhecimento, ou, em outras palavras, são
elementos básicos o objeto a ser investigado e as ações que conduzem a
investigá-lo. O tema, ou objeto, é o próprio cerne da pesquisa e o
impulsionador de todas as atividades para explorá-lo, para descobrir outros
aspectos de interesse. As conclusões que o aluno formulará revelarão seu
espírito crítico diante do que estudou e viu de maneira diferente da
costumeira, agora com olhos de pequeno cientista e ao mesmo tempo sentindo, de
forma prática, como é possível se integrar melhor na sociedade de que faz
parte.
Vê-se, assim, o quanto o trabalho com projetos
desenvolve as habilidades técnicas dos alunos; percebe-se o quanto, além de
facilitar a construção do conhecimento, esse trabalho é integrador do aluno no
contexto em que vive, pela investigação e pela reflexão sobre a realidade,
desenvolvendo nele uma consciência social e co-participativa.
Com base nessas considerações, justificam-se as
propostas aqui apresentadas que visam, sobretudo, subsidiar os professores do
ensino fundamental com um instrumento pedagógico valioso e dar sugestões na
preparação de material para sua aplicação em sala de aula dentro determinados
enfoques selecionados.
A
organização do currículo escolar e os projetos
Sem um planejamento que apresente um projeto
pedagógico bem elaborado, será difícil pôr em prática as ideias aqui
apresentadas, pois é preciso planejar a sala de aula como local de reflexão e
de experimentação, onde todas as atividades partam sempre de questionamentos
conduzidos pelo professor.
O planejamento, segundo Turra (1975), “é um
conjunto de ações coordenadas entre si, que concorrem para a obtenção de um
certo resultado desejado”. O planejamento envolve a previsão metódica de atividades
ou ações e a determinação de meios pelos quais elas serão realizadas na busca de
determinado fim. Planejar é, pois, especificar para onde se vai, quais os meios
para chegar lá e quais os resultados que se pretende conseguir. É, portanto,
ainda de acordo com Turra (idem),
“traçar caminhos, prever estratégias e atividades dos professores e dos alunos,
na situação de ensino-aprendizagem, que possam conduzir ao conhecimento de algo
e que possibilitem maior produtividade”.
O planejamento, como instrumento pedagógico de
ação educativa, poderá com base em ideias, construir projetos simples que
apresentem:
• temas para estudo que se relacionem aos
conteúdos programados;
• objetivos que se deseja alcançar pela
investigação;
• procedimentos a usar para chegar aos
resultados almejados;
• atividades ou ações a cumprir, em certo tempo
e lugar;
• resultados a esperar e a avaliar de acordo
com os objetivos propostos.
As unidades de ensino podem se transformar em
pequenos projetos interdisciplinares, cujos temas ou assuntos serão escolhidos
da realidade vivida pelos alunos ou do interesse deles, ou mesmo colhidos dos
conteúdos a serem ministrados. Dessa forma, o aluno será levado a conhecer os
fatos, a procurar soluções para os problemas, a falar e a escrever sobre eles,
mas, sobretudo, a vê-los de maneira inteligente e questionadora dentro dos
contextos disciplinares e não isolados.
A prática pedagógica aqui apresentada só
surtirá efeito se partir do projeto pedagógico local, que determina a linha de
ação que se deseja desenvolver na escola a partir das respostas às questões:
• quem o realizará?
• por que será realizado?
• para que será realizado?
• como será realizado?
• quais os resultados a serem esperados?
Ele deverá estar moldado no projeto pedagógico
e filosófico institucional, que terá como princípios básicos o tipo de homem
que se quer formar e o crescimento intelectual do aluno como ser humano,
vivendo em sociedade.
Todas as estratégias e atividades implementadas
e executadas na escola deverão ser ao mesmo tempo vinculadas entre si,
constituindo um todo num trabalho integrador mediante a investigação e a
reflexão, e sempre orientadas para estes dois pólos: a construção do
conhecimento dos alunos e a formação da cidadania na pessoa deles.
Dessa forma, o currículo escolar terá função
humanizadora completa, facilitando a apropriação do conhecimento científico e
do crescimento do ser humano.
Cada escola deverá construir seu projeto com a
participação de seus membros segundo sua realidade local e o contexto em que
atua. O projeto maior orientará o processo de ensino e aprendizagem, o qual não
será uma coisa empírica, mas configurada como um conjunto de atividades
inter-relacionadas e práticas, envolvendo temas sobre os quais se desenvolverão
atividades pedagógicas embasadas num suporte teórico e destinadas a alcançar o
conhecimento.
Cada área de ensino pode ser transformada em
uma unidade desenvolvida como projeto, tendo como base a realidade, as
necessidades e as vivências dos alunos por meio destes dois instrumentos:
macroprojeto,
envolvendo a escola como um todo — cada classe/série/ano dará sua parcela de
participação por meio do estudo contextualizado das disciplinas;
miniprojetos,
restritos a uma sala de aula — todos os alunos trabalharão um núcleo temático,
para aprofundar seu estudo.
Dentro de cada unidade, as atividades seguirão
o modelo científico atual, que consta de: conceitos propostos com base em
observações; questionamento e predições; pesquisas, experimentações e
reflexões; e conclusões lógicas aplicáveis. Esse modelo está em uso desde os
tempos de Galileu e ensina a ver o mundo de maneira inteligente e crítica, e
não apenas a aceitá-lo como é, sem discuti-lo.
Qualquer proposta pedagógica voltada para o
trabalho de pesquisa do aluno deverá objetivar fundamentalmente:
· desenvolver
na escola o uso de um método de estudo cativante, extremamente útil e de fácil
aplicação dentro da sala de aula;
· orientar
os professores na organização e no desenvolvimento de miniprojetos de
investigação que levem os alunos ao melhor conhecimento dos fatos da realidade
perceptiva;
· propor
situações-problema ou temas que funcionem como impulsionadores e motivadores na
descoberta de novos conhecimentos;
· transformar
a sala de aula em laboratório, onde tudo deve ser questionado, analisado e
avaliado;
· estimular
os professores a dinamizar o ensino pelo aprofundamento da aprendizagem na qual
os alunos sejam os principais agentes;
· oferecer
oportunidades para que os alunos manifestem sua criatividade em pequenas
propostas de estudo interdisciplinar, possibilitando-lhes, assim, conhecer
melhor o mundo em que vivem; formar seus próprios conceitos e juízos sobre as
coisas; assumir atitudes de responsabilidade; agir cooperativamente; interagir
com os outros.
Os projetos podem ser realizados coletivamente,
podendo-se ater a consultas bibliográficas, entrevistas, excursões com relatos,
estudos de coisas da vida diária para, por meio deles, construir novos saberes.
Esse modelo de investigação ou de pesquisa aqui
mostrado pode partir de duas atitudes: a indutiva, pela qual o estudo parte
da observação da situação-problema, tirando-se dela conclusões; a dedutiva,
que parte de formulações conceituais e proposições para comprová-las ou
testá-las pela observação dos fatos. De acordo com a orientação que o professor
quiser dar, ambas as atitudes poderão ser adotadas concomitantemente.
Pelo processo indutivo, explica-se ao aluno que
ele poderá partir da observação dos fatos, formulando hipóteses, dizendo o que
sabe sobre eles e suas causas, e depois procurando dados e informações para
confirmar se suas respostas ou opiniões são verídicas ou não. Por exemplo:
saber por que a garrafa de bebida tirada da geladeira fica coberta de gotinhas;
descobrir por que essas gotinhas aparecem, de onde vêm, se isso acontece com
qualquer bebida etc. O aluno responderá como acha que isso acontece — serão
suas hipóteses. Depois pesquisará informações para ver se suas respostas estão
certas. Outros exemplos: saber por que quando somos vacinados contra alguma
doença, pela vacina são injetados em nós vírus dessa mesma doença; ou ainda por
que as frutas ou carnes apodrecem, quando ficam fora da geladeira.
Pelo processo dedutivo, o aluno começa a
pesquisa tendo por base uma teoria ou lei que já se conhece como certa; ele irá
investigar ou fenômenos para testá-la e saber se realmente ela pode ser
aplicada a todos os fatos semelhantes. Por exemplo: partindo de um princípio já
aceito — como, por exemplo, “Qualquer criança que trabalha tem sono cm sala de
aula e portanto tem dificuldade em estudar”—, ele investigará fatos ou situações
que comprovem essa tese. Provavelmente deduzirá que isso acontece pelo fato de
a criança sentir cansaço, não ter tempo, alimentar-se mal, ajudar os pais,
cuidar dos irmãos menores etc.
Ao final da pesquisa deverá ser feita uma
avaliação, visando julgar a maneira como foi executada a pesquisa — sua
adequação e os resultados obtidos em relação aos conhecimentos conceituais,
procedimentais e atitudinais — e analisar as vantagens e os resultados, tendo
em vista os objetivos do trabalho: o que os alunos fizeram; como fizeram; que
conhecimentos novos adquiriram sobre o assunto; como superaram as dificuldades
que tiveram.
Qualquer que seja a atitude assumida ou a forma
usada no processo de ensino e aprendizagem, é sempre bom lembrar que os
trabalhos com projetos de pesquisa são estratégias pedagógicas flexíveis e
independem de modelos ou protótipos preestabelecidos, podendo ser adaptados e transformados
a critério de quem os usa.
As vantagens, contudo, serão logo sentidas após
as primeiras experiências, quando o professor e mesmo as famílias perceberão:
· a
motivação e a vontade dos alunos na busca de informações e dados para
conhecerem melhor aquilo que pesquisam;
· a
interação e o intercâmbio entre eles, com partilha de responsabilidades nas
equipes que realizam as tarefas;
· as
transformações sentidas nas salas de aula, consideradas laboratórios de
experiências e de mostruários;
· o
despertar de contínuas questões sobre os fatos ou problemas a estudar,
levando-os sempre a querer saber mais sobre o assunto;
· a
vontade dos alunos de mostrar aos demais colegas da escola, por meio de
seminários, murais, debates, desenhos etc., os resultados alcançados.
O
papel do professor no trabalho com projetos
O professor é peça insubstituível no trabalho
de pesquisa. O projeto funcionará bem ou mal, de acordo com a atuação do
professor e a assistência que ele der à elaboração da pesquisa e ao desenrolar
das ações.
Atualmente não se concebe mais o professor como
simples informante para o aluno. Ele passou a ser considerado o orientador, o
propulsionador das atividades e o estimulador do aluno. Educar não é mais
simples troca de informações ou de saberes: é conduzir o aluno à descoberta, à
construção de conhecimentos que o privilegiem na transformação do mundo em que
vive, O ensino tem que ser atividade direcionada para a autoaprendizagem a
partir daquilo que o aluno já sabe, do que vai descobrir, criticar e aceitar,
como também, decorrência da interação com o professor e os colegas.
Dessa forma, o ensino é transformado — numa
busca daquilo que não se sabe e se quer saber — em pesquisa, em investigação. O
professor precisa se convencer de que ciência é pesquisa e não mera
aprendizagem, nem imposição de saberes. É evidente a importância do papel do
professor no ensino, mas essa importância depende de sua qualificação na busca
da modernidade pedagógica, da renovação de sua capacitação, de sua atualização
constante em treinamentos de aperfeiçoamento profissional.
Os cursos de renovação pedagógica frequentes
possibilitam exercitar a didática do “aprender a aprender” apoiada na devida
teorização. O professor não deve esquecer que no mundo atual o que prevalece,
acima de tudo, é o conhecimento e as competências que decorrem da renovação da
educação e do uso de métodos voltados para a descoberta e a investigação. Ele,
como formador principal nessa estratégia pedagógica, é a peça-chave do processo
na construção das condições propedêuticas adequadas do saber pensar, pesquisar,
teorizar a prática, tanto pelo seu domínio dos conteúdos como pela adoção de
atividades inovadoras que procurará estimular. Dessa forma, conseguirá ser
aquele que supera os esquemas antigos de ensinar apenas transmitindo
conhecimentos, repetindo, copiando, passando a ser aquele que acredita na
capacidade criativa do aluno fundada na pesquisa, na sua elaboração própria de
saberes que o preparem para as oportunidades práticas da vida.
Porém, para atingir essa condição, o professor
terá de colaborar e adaptar-se a novas sistemáticas educacionais, deixando de
se considerar o “tradicional mestre sabe-tudo”, o centro e a convergência das
atenções, para esquecer-se de si mesmo e tornar-se o guia, o facilitador da
aprendizagem. Deverá tornar-se um especialista na descoberta de estratégias
didáticas, convencendo-se de que apenas usar o vídeo, slides ou trabalho em
grupo não significa modernizar-se ou renovar-se pedagogicamente.
Não resta a menor dúvida de que, na atual
conjuntura, para implantar esses procedimentos metodológicos renovados será
preciso repensar, além da capacitação e do papel dos professores, as condições
da escola, que talvez ainda viva e esteja arraigada aos velhos problemas
relacionados ao processo de ensino e aprendizagem: informar, copiar, decorar,
cobrar pela avaliação.
Para tanto, torna-se indispensável requalificar
professores que tenham disposição e vontade de trabalhar com métodos renovados
e que estejam dispostos a quebrar tabus na tarefa educacional, que queiram
mudar a antiga mentalidade e aceitar inovações destinadas a provocar nos alunos
respostas para as necessidades e interesses da nova sociedade em que viverão.
Professores que procurem fazer a escola aproximar a teoria da práxis e
preocupar-se com a vida, a origem, a cultura popular, o meio ambiente, as
experiências vivenciadas pelos alunos, fazendo disso tudo o ponto de partida de
práticas úteis ao aprendizado. Professores que deixem de ludo as teorias e as ideias
conservadoras e tradicionais e se transformem em multiplicadores e mestres
capazes de reconhecer que eles e os alunos não estão no mesmo nível de
conhecimento e que o ponto de partida do ensino não deve ser o que eles sabem,
mas o que os alunos sabem empiricamente, e sobre isso construir novos
conhecimentos.
Portanto, o que se quer é um processo renovado
de ensinar que tenha sempre o questionamento como guia da descoberta de novos
caminhos que representem uma nova atividade docente — a metodologia
investigativa.
Lembre-se o professor de que há duas
metodologias predominantes nas escolas: a metodologia das superficialidades,
que se baseia no saber do senso comum, na intuição e na improvisação do
professor, em seu jeito de expor, copiar e cobrar; e a metodologia científica,
baseada nos métodos da investigação pelo questionamento, das hipóteses como
respostas provisórias, da comprovação do que se afirma e a da experimentação
dos fatos.
Partindo do pressuposto de que uma pesquisa
realizada como atividade pedagógica em sala de aula possibilita desenvolver o
conhecimento pelo estudo e pelo aprofundamento, torna-se necessário que o
professor se prepare para saber aplicar essa atividade. Para isso, é
fundamental que ele leia muito sobre a viabilidade de trabalhar com projetos;
interesse-se muito pelas estratégias a empregar; crie e invente formas novas
para conseguir melhor aproveitamento; não dê respostas prontas aos alunos,
matando-lhes a curiosidade, decepando pela raiz a beleza da pesquisa; não
desanime diante das pequenas dificuldades que surgirão.
Ao conhecer bem a maneira de aplicar a pesquisa
como atividade escolar, é preciso que o professor:
· estimule
sempre a curiosidade natural dos alunos, explicando-lhes como se deve proceder
diante de fatos que se quer conhecer;
· induza-os
à descoberta de soluções, ou de informações, pela leitura e pela reflexão sobre
os aspectos temáticos selecionados;
· aplique
meios simples para que eles possam chegar às informações de que precisam;
· faça a
devida adequação dos temas ou assuntos a serem pesquisados à faixa etária dos
alunos;
· nunca
deixe que os resultados de uma pesquisa feita pelos alunos fiquem esquecidos ou
escondidos, mas os estimule a fazer outras, promovendo relatos, apresentação
oral para toda a classe, exposição no mural dos resultados obtidos.
O professor deve sempre ter em mente que a ciência
nasce com o problema que o homem encontra; que o problema tem que ser resolvido pelo próprio homem; que o objetivo da pesquisa é sempre procurar
a solução do problema; que a solução do
problema é o próprio conhecimento construído.
Para achar a solução de qualquer problema há
dois caminhos: o do senso comum ou empírico,
que é assistemático, nasce de tentativas, não procura as causas, é
individualizado, não questiona; e o dos métodos
científicos, que é organizado, experimental, baseia-se em hipóteses, em
comprovações, em análises críticas e deduções.
Referência
MARTINS,
Jorge Santos. O trabalho com projetos de
pesquisa: do ensino fundamental ao ensino médio. Campinas, SP: Papirus,
2001. p.31-55
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