O Trabalho com Projetos de Pesquisa

 

UMA PROPOSTA

 

Aprender investigando

 

Ninguém, conhecendo a real situação do ensino no Brasil, contestará as seguintes afirmações que a cada momento são ouvidas: “A escola não está ensinando bem”, “Os alunos não aprendem ou aprendem muito pouco”, “Os professores sentem-se desestimulados e desvalorizados”.

Em face desses problemas declarados e evidentes, existe, por todo o país, uma mobilização muito grande de educadores preocupados com a busca de soluções que não sejam apenas paliativas, mas que despertem a atenção dos responsáveis e apontem para uma visão pedagógica nova, capaz de conduzir a novas concepções de um planejamento educacional e à descoberta de uma pedagogia renovada, com atividades didáticas que possam modificar esse sombrio panorama das escolas.

Por que a escola não ensina bem? Por que os alunos aprendem pouco? Por que os professores sentem-se desestimulados? Por que — depois de diversas experiências em todo o país — ainda não se fixou um modelo de sistema educacional que satisfaça plenamente e que perdure?

Diante de tantas interrogações, não se pode chegar a conclusões satisfatórias quando se considera a diversidade social existente no país e quando se entende a educação como um processo dinâmico e passível de renovação, na tentativa de atualizar-se para acompanhar as rápidas mutações que acontecem na vida moderna, na ciência e na tecnologia.

“Enquanto o mundo lá fora, sobretudo a economia, luta para acompanhar o ritmo das mudanças, a escola parece uma trincheira tombada, fora de espaço e de tempo” (Demo 1992). Esse pensamento Preocupante faz com que nos posicionemos diante de um futuro que está aí e que exige rápidas mudanças no sistema de ensino atual para que:

• a escola deixe de ser apenas a tradicional repassadora e cobradora de conteúdos para se tornar centro de aprendizagem significativa desses mesmos conteúdos;

• o professor abandone a função de mero informador de conhecimentos para se tornar o condutor do aprender a aprender;

• o tradicional método livresco não seja tão valorizado e se implante a dinâmica de trabalho investigativo com reflexão-descoberta-reflexão.

Felizmente, ideias novas vêm surgindo a cada ano, e muitas já vêm sendo postas em prática, como objetivo de modificar a situação que ainda prevalece. Uma das mais aceitas talvez tenha sido a “Pedagogia de projetos” ou “trabalhar com projetos na escola”. Na verdade, essa não é uma ideia nova — ela surgiu no início do século XX, nos Estados Unidos, concebida pelo filósofo e educador John Dewey e desenvolvida por seu discípulo Kilpatrick.

Aos poucos, esse método foi difundido com muita aceitação na Europa e chegou até nós com os trabalhos de Miguel Arroyo, aplicados à organização de conteúdos programáticos das disciplinas, em escolas de Minas Gerais. Consistia a referida proposta, depois de aperfeiçoada e alterada, em desenvolver trabalhos capazes de vincular a sala de aula à realidade social na qual o aluno vive, para que ele pudesse entendê-la melhor, mostrando, assim, que o processo de aprendizagem é um processo global, que integra o saber com o fazer, a prática com a teoria, em outros termos, a pedagogia da palavra com a pedagogia da ação.

Para concretizar essas ideias, propunha-se selecionar temas ou problemas da realidade social da vida dos alunos, mesmo que esses temas não fizessem parte das áreas das disciplinas curriculares tradicionais. Seriam motivos temáticos a serem trabalhados, numa visão interdisciplinar que globalizasse conteúdos escolares com assuntos da vida cotidiana dos alunos, como:

Aspectos da comunidade: organização social, cultural, econômica, religiosa, política, administrativa; de saúde, de lazer, de escolaridade, de segurança etc.

Aspectos da escola: localização e condições de funcionamento; aspectos administrativos, pedagógicos; clientela, interação pais/escola, recursos didáticos ou materiais etc.

Aspectos do meio ambiente: relacionados a flora, fauna, preservação, educação ecológica; problemas de exploração e fontes de benefícios etc.

Aspectos da família: organização familiar, tradições, ocupações, religiosidade, participação social, nível socioeconômico-cultural, atividades/trabalho etc.

Aspectos de etnia: origens da população, predominância étnica, migrações, influências familiares, culturais, religiosas, econômico-agrícolas etc.

Aspectos pluriculturais: manifestações variadas da tradição, da culinária, da religiosidade, do folclore, das artes populares, dos costumes regionais etc.

A implementação da “Pedagogia de projetos” nas escolas não implica a rejeição ou o abandono dos temas curriculares já consagrados na programação escolar, nem o desprezo pelos chamados temas-eventos, tão em uso em nossos cursos primários, como Dia das Mães, festas juninas, Dia da Criança, Dia da Árvore, Dia do Índio etc. Essas datas comemorativas são preservadas no planejamento escolar como propostas paralelas e aglutinadas pela “Pedagogia de projetos”.

A grande vantagem desse procedimento, quando posto em prática, é dar maior flexibilidade à organização dos currículos, uma vez que trabalha com conteúdos integrados das várias disciplinas, numa proposta moderna e progressista.

Atualmente são numerosas as publicações sobre a “Pedagogia de projetos” e numerosas são também as escolas que já adotam essa forma de organizar seus currículos, seguindo o exemplo do que aconteceu na Espanha e os estudos que vêm sendo desenvolvidos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em outras universidades brasileiras.

Se refletirmos um pouco sobre o que se declara e sobre o que frequentemente acontece ao final de cursos acadêmicos de especialização, ou mesmo de cursos regulares universitários, perceberemos queixas do tipo: “Não sei fazer o projeto de pesquisa que me pedem”, “Não sei nem por onde começar a monografia que devo apresentar — nunca me ensinaram a praticar a metodologia para elaborar e realizar uma pesquisa, um trabalho acadêmico, um relatório de estudo” etc. Essas declarações preocupam quem se dedica ao magistério e induzem a perguntar:

     por que não ensinar, a partir do ciclo básico, algumas noções elementares de como elaborar e organizar projetos simples de pesquisa?

     por que não se orienta a criança, já nas primeiras séries, a utilizar alguns métodos científicos, para aprender a dominá-los, desde cedo, no estudo e na investigação das coisas, de maneira sistematizada?

     por que não explicar aos alunos como refletir sobre problemas da vida deles e como investigá-los pela observação, pela formulação de hipóteses e como colher dados e informações para comprová-las?

     se os projetos de trabalho já são aceitos como formas de organizar os currículos, por que não aproveitar esse caminho para introduzir alguns na programação escolar?

São respostas a questões desse tipo que orientaram as ideias neste livro. Propomos nele um caminho que representa o significado verdadeiro de trabalhar com pesquisa como estudo compartilhado, ou transdisciplinar, envolvendo matérias diversas na exploração de campos de saber que, em geral, estão fora da programação escolar.

A intenção, ao elaborar esta proposta, foi adaptar a metodologia da “Pedagogia de projetos” a outro enfoque e direcioná-la para que os projetos orientados pelos métodos da ciência sejam, assim, realizados corretamente como preparação para o futuro universitário do aluno.

Aborda-se no livro o aspecto multidisciplinar ou globalizado que vem sendo muito discutido e comentado nos últimos anos e que, na verdade, representa o conhecimento cientifico atual como um “conglomerado de saberes” de várias áreas disciplinares.

Basta ver programas de TV, ler artigos de revistas de grande circulação, acompanhar a divulgação de temáticas de eventos profissionais para perceber como evolui em efervescente revolução o conhecimento no mundo. O aluno quer saber mais detalhes sobre o que vê na televisão e o que acontece a seu redor, sobre o que ouve comentar e observa na Internet; ele questiona os professores e pede explicações para aprender como praticar tudo isso na vida real, enfim, como praticar a teoria.

A escola sofre pressões de todas essas manifestações culturais e por isso tem que se preparar e organizar seus currículos disciplinares dentro dessa visão globalizante de saberes e da perspectiva futura da vida humana.

A maneira de tratar o conhecimento deve ser reorganizada. Os aspectos tecnológicos, científicos e filosóficos têm que ser levados em conta, pois eles já comandam o futuro profissional dos alunos. As novas teorias pedagógico-educacionais surgidas mostram que o conhecimento a ser perseguido na atualidade pela escola não é mais aquele compartimentado e estanque, mas o saber globalizado, que considera todos os aspectos da vida e possibilita acompanhar o avanço do mundo de hoje.

Se a perspectiva de Dewey e Kilpatrik, nos EUA, de Freinet, na França, de Santomé e Hernández, na Espanha, de Ana Maria Haufman, na Argentina, e de Miguel Arroyo e Monique Deheinzelin, no Brasil, quanto aos “projetos de trabalho na escola”, era de organizar os currículos escolares aproximando-os da vida real do aluno, considerando a escola como espaço aberto, o que eles pretendiam, na verdade, era possibilitar maior integração dela com a comunidade. Era dar ao estudante oportunidade para refletir sobre os problemas que encontra diariamente e conduzi-lo à busca de soluções desses problemas, aproveitando os conteúdos disciplinares aprendidos em sala de aula.

Mas como fazer isso? Como pôr em prática tão belas ideias? Embora os mentores dessa pedagogia tenham deixado o desenvolvimento dos projetos a critério dos professores, de acordo com suas necessidades contextuais e sua criatividade, uma resposta a essa dúvida poderia ser: pela pesquisa organizada de acordo com algumas atitudes científicas orientadas pelo professor. Exatamente esse é o caminho que apresentamos e explicamos ao longo das páginas deste livro.

Contudo, aqueles que desejam implantar e incrementar, nas escolas onde trabalham, essa forma de ensino e aprendizagem devem se convencer de que esse trabalho não pode ser realizado de forma empírica, ou intuitiva, mas talvez exija um replanejamento das atividades já programadas na escola.

O sentido prático e com forma mais organizada envolvendo conteúdos multidisciplinares que representam a nova metodologia do “como fazer” poderá ser expresso neste gráfico:

REFLEXÃO

AÇÃO

REFLEXÃO

Sobre o que se observa na realidade

O que pesquisar?

Por que fazer?

Com quem fazer?

Para que fazer?

Como fazer?

O que se espera?

Analisar

Deduzir

Tirar conclusões

 

A forma metódica do trabalho é dada num roteiro que se inicia tom a seleção e a definição de:

• o quê? — O tema ou assunto a ser trabalhado.

• por que se quer fazer esse trabalho ou estudo? — Os propósitos ou finalidades a serem determinados para levar o aluno a expressar o que sabe sobre o tema, a formular suas hipóteses e a dizer o que mais quer saber.

• para que se fará esse trabalho? — O objetivo pode ser a capacitação dos alunos para a prática do que aprenderam, o domínio e o aprofundamento dos conhecimentos e conceitos básicos relacionados ao tema do trabalho.

• como deve ser feito o trabalho? — Os procedimentos a utilizar, possibilitando aos alunos a observação da realidade e a busca, nas fontes, de dados ou informações sobre o tema, para que possam comprovar suas hipóteses, organizá-las, analisá-las e tirar conclusões de seus resultados.

 

Essas posturas modernas de ensinar, por meio do trabalho com projetos, já estão sendo adotadas em muitas escolas que mudaram sua antiga filosofia de atuar e mesmo em outras que apenas perseguiam o imediatismo dos resultados e passaram a se preocupar com a formação do homem integral do futuro.

Mas para reverter a situação que ainda predomina no ensino e tornar essa estratégia eficaz, será preciso que ela se manifeste na forma de mudanças de atitudes do professor, que deixará de dar receitas prontas a seus alunos e aplicará, sobretudo, o questionamento. Na investigação do saber, o professor torna-se, tão-somente, o orientador e o facilitador do processo de aprender centrado no aluno.

A criança também quer mudanças, não aceita o imobilismo. Como é curiosa por natureza, questiona tudo e quer saber o porquê de tudo. Deve-se, assim, aproveitar essa qualidade para, a partir do ensino básico, iniciá-la na prática da pesquisa e dessa maneira conduzi-la, como cientista mirim e agente da própria formação, nos conhecimentos que deverá assimilar e incorporar, aos poucos, ao seu processo de crescimento intelectual.

 

Educar pela pesquisa é o que se deseja

 

Pedro Demo (1998a), autor do livro com esse título, afirma no início que educar pela pesquisa é um enfoque propedêutico, ligado ao desafio de construir a capacidade de reconstruir, na educação básica e superior. “É um desafio voltado para considerar a pesquisa como maneira de educar”. Diz ainda: “A base da educação escolar é a pesquisa. (...) Onde não aparece o questionamento reconstrutivo, não emerge a propriedade educativa escolar” (Demo 1998a, p. 27). A pesquisa busca o conhecimento, para poder agir na base do saber pensar.

Muitos se queixam dos sistemas educacionais vigentes por não apresentarem soluções imediatas, sobretudo para os problemas de alfabetização e para o fracasso escolar alarmante no país, mas, infelizmente, poucos consideram que as soluções podem vir mais de nós educadores, do que dos legisladores educacionais.

A intenção dessa proposta é fazer refletir sobre a aplicação da pedagogia investigativa em sala de aula, isto é, do “aprender pela pesquisa”, e concordamos plenamente com Pedro Demo que o trabalho com pesquisa na escola, além de dar sentido científico às tarefas, é altamente educativo, pois envolve o aluno, fazendo-o deixar de ser ouvinte repetidor de conteúdos e passe a agir e a refletir com consciência crítica diante dos fatos estudados.

É pela utilização da pesquisa que se efetiva o processo “reconstrutivo do conhecimento” por meio do questionamento contínuo da realidade e do uso dos meios investigativos apropriados à busca do saber.

A característica fundamental da prática da pesquisa na escola é o interrogar reconstrutivo, quer dizer, a passagem do aluno passivo, receptor apenas, para o papel de sujeito participativo e operante no desenvolvimento de seu conhecimento — aquele aluno que aprende a superar a condição de “massa de manobra”, para se transformar em agente da própria aprendizagem, como crítico e inovador, no dizer de Pedro Demo.

“O professor não modifica ninguém, o aluno é que se modifica quando aprende”, já afirmou o educador Edson Franco (1989).

O trabalho com pesquisa, por meio de miniprojetos, deve ser desenvolvido em sala de aula para favorecer a formação do raciocínio e da reflexão nos alunos, conduzindo-os a ver as coisas com outros olhos e de maneira diferente, aprendendo a identificá-las e a relacioná-las.

Essa modalidade pedagógica destina-se a estabelecer o equilíbrio entre o pensamento científico e o desenvolvimento humano pela aplicação de uma metodologia assentada no tripé: curiosidade, investigação e descoberta.

A curiosidade despertada e motivada pelo professor conduzirá o aluno ao desejo de saber e conhecer melhor o assunto a ser investigado. A investigação devidamente orientada pelo professor pela aplicação de procedimentos sistematizados destina-se a levar o aluno a explorar o assunto pela leitura, pelas entrevistas pela observação da realidade. A descoberta, como alvo, é a realização maior do prazer cultural e da satisfação do aluno em, por ele mesmo, atingir o conhecimento desejado.

Submetido a essas técnicas de ensinar a ver e estudar as coisas, ele nunca mais esquecerá os conhecimentos adquiridos. Essa é a verdadeira aprendizagem que se quer implantar. Esse é o verdadeiro objetivo da pesquisa.

É bom lembrar que qualquer pesquisa, por mais simples que seja, destina-se a “produzir conhecimento”, e esse caminho será a maneira mais fácil e agradável de o aluno conhecer e adquirir o verdadeiro saber. O professor deverá interrogar os alunos para induzi-los a dar respostas. Essas respostas (hipóteses ou suposições) serão baseadas no senso comum ou nos modelos que os alunos conhecem, mas, depois de testá-las ou comprovar sua veracidade, eles aos poucos irão dando respostas diferentes, talvez mais científicas do que as primeiras, que provocarão debates ou novos questionamentos.

Realizar um trabalho desse tipo é conduzir os alunos à elaboração e à reconstrução de seus conhecimentos, à mudança de suas concepções sobre os fatos do mundo, fazendo com que tenham uma visão mais crítica e diferente das coisas que os cercam.

A verdadeira aprendizagem se dá pela assimilação significativa de conhecimentos — a teoria originando-se da prática e retornando a ela para ser aplicada na vida por novos caminhos.

 

Referenciais teóricos em que se apoia a proposta

 

Entendendo que, sem um referencial teórico, a proposta aqui apresentada cairia no empirismo, no intuitivo, não contribuindo suficientemente para a melhoria do conhecimento das coisas, temos a obrigação de lhe dar o embasamento conceitual que lhe servirá de apoio, com a inclusão de excertos de alguns autores para fundamentar e reforçar a compreensão da proposta e esclarecer o que nela é apresentado.

Antes de qualquer coisa, esclarecemos que todas as ideias nela expostas tiveram como ponto de partida os princípios da educação divulgados pela Unesco:

• aprender a conhecer;

• aprender a fazer;

• aprender a viver com os outros;

• aprender a ser.

Fizemos consultas à nova Lei de Diretrizes e Bases do MEC e descobrimos que, em seu artigo 32, incisos de I a IV, são destacados princípios essenciais da educação que reforçam o direito constitucional do aluno em relação à sua formação básica, para que, como cidadão:

• possa desenvolver a capacidade de aprender;

• possa compreender o ambiente natural e social onde vive;

• possa desenvolver sua capacidade de aprendizagem;

• possa fortalecer os laços de solidariedade e de relações interpessoais.

 

Apoiamo-nos também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que propõem que as escolas construam “um currículo baseado no domínio de competência e não no acúmulo de informações”, enfatizando ainda que “o que se. ensina deve ter vínculo com os diversos contextos da vida do aluno”, portanto ele deve ter “conectado o que se ensina a problemas, fatos e circunstâncias de sua vida”, capacitando-se assim a realizar o verdadeiro exercício da cidadania e da consciência social.

Para atender a esses ditames legais, aconselhamos que os primeiros projetos a serem realizados pelos alunos relacionem-se com os temas transversais apontados nos PCNs, como saúde, ética, cidadania, pluralidade cultural, sexualidade, relações interpessoais, e muitos outros extraclasse que os professores apontarão.

Na parte prática deste manual, apresentamos também alguns projetos já esquematizados, cujos temas estão voltados para essas relações vivenciadas pelos próprios alunos como: “Nossa escola”, “Trabalho e comunidade”, “Cidadania”. “Meio ambiente” etc.

Além dessa preocupação com as diretrizes educacionais voltadas para a formação social do aluno como integrante e participante de uma comunidade, diversos autores que aprofundaram o assunto do trabalho escolar com projetos foram consultados, como Hernández e Monserrat (1998a, p. 61), que mostram que projeto não é metodologia mas apenas uma forma de criar estratégias, organizar e articular informações sobre um determinado tema, cabendo aos alunos desenvolvê-lo, compreendê-lo e assimilá-lo.

Os autores destacam que “o princípio da aprendizagem por descoberta, (....) por parte dos alunos é mais positivo quando emana daquilo que lhes interessa e aprendem da experiência daquilo que descobrem por si mesmos” (idem, p. 64).

Hernández detalha muito a organização de projetos como estratégias de aprendizagem, e enfatiza a interdisciplinaridade como somatório de matérias num trabalho com projetos, diferenciando-a de globalização, termo que considera mais adequado em se tratando de organização de conhecimentos; por último, apresenta alguns modelos de projetos que podem ser aplicados com um certa flexibilidade e de forma muito aberta, sem lhes dar o sentido de pesquisa sistemática, como nós propomos.

Os manuais da Editora FTD “História da filosofia”, “Didática”, “Ensino e aprendizagem” e a coleção “Conteúdo e Metodologia”, de 1999, são de uma riqueza muito grande e nos serviram proveitosamente, uma vez que neles são mostrados e explicados temas a serem explorados pelos alunos com a orientação do professor.

Em “História da filosofia”, afirma o autor Antônio J. Severino (1999, p. 92):

O objetivo essencial da Educação, a sua intencionalidade básica, numa sociedade historicamente determinada, é inserir os educandos no tríplice universo de suas mediações:

• no universo do trabalho, da produção material das relações econômicas e produtivas — esfera do fazer técnico;

• no universo da sociabilidade e suas mediações institucionais, âmbito das relações políticas — esfera do poder;

• no universo da cultura simbólica e simbolização subjetiva, âmbito da consciência pessoal, da subjetividade das relações intencionais — esfera do saber.

 

São ideias valiosas — sobre as quais nos apoiamos — a respeito da utilidade dos projetos como preparação do futuro profissional, que demonstram preocupação em despertar o interesse dos alunos pelos problemas de seu dia-a-dia e a consciência de que devem se preparar para solucioná-los, demonstrando, dessa forma, sua parcela de colaboração e participação dentro da comunidade.

Outros autores serviram de base a este nosso estudo, como Bastos e Keller (1999), Demo (1993; 1998a; 1998b) e Bagno (1999).

Segundo André (1989, p. 39), “o estudo do cotidiano escolar se coloca como fundamental para compreender como a escola desempenha seu papel socializador. (...) e como a escola participa do processo de socialização dos sujeitos que são, ao mesmo tempo, determinados e determinantes”. Servimo-nos desse pensamento para mostrar que trabalhar com projetos na escola é formar e exercitar o aluno na prática coletiva da cidadania, fazendo-o refletir sobre as situações difíceis e conflituosas que a cada passo encontra na família e na comunidade e sobre as maneiras de intervir nelas de forma concreta.

Demo (1998a, p. 2) afirma, categoricamente:

a pesquisa na escola é uma maneira de educar e uma estratégia que facilita

a educação (...) e a consideramos uma necessidade da cidadania moderna.

(...) Educar pela pesquisa é um enfoque propedêutico, ligado ao desafio de

construir a capacidade de reconstruir, na educação básica e superior... (...) É um desafio voltado para considerar a pesquisa como maneira de educar.

 

Enfatiza ainda Demo (idem, ibidem):

(...) a base da educação escolar é a pesquisa... (p. 6). (...) A pesquisa busca na prática a renovação da teoria e na teoria a renovação da prática... (p. 9). (...) A pesquisa supõe ambiente de liberdade de expressão, crítica e criatividade ) o aluno não vai à escola para assistir à aula, mas para pesquisar, compreendendo-se, por isso, que sua tarefa crucial é ser parceiro de trabalho, não ouvinte domesticado. (...) O que se aprende na escola deve aparecer na vida (p. 17). (...) A pesquisa persegue o conhecimento novo, privilegiando como seu método o questionamento sistemático crítico e criativo... (p. 9).

 

Estamos em consonância com o autor, pois, como ele, queremos uma escola mais aberta à comunidade, em que todos participem dessa imensa tarefa de educar, com base na reflexão sobre os problemas que estão aí.

Pedro Demo afirma categoricamente que pesquisa na escola é uma maneira de educar e uma estratégia que facilita a educação. Ele considera a pesquisa imprescindível na formação do estudante. Segundo ele, “a pesquisa é a verdadeira fonte do conhecimento”. Para o autor, a pesquisa “pretende, através da reconstrução do conhecimento, manter a inovação como processo permanente para poder agir na base do saber pensar”. Segundo ele, “a pesquisa estrutura-se como o eixo catalisador, funcionando como impulso da criatividade do aluno e núcleo disciplinador da produção do saber”.

Para Perini (1996, p. 31), “o estudante brasileiro é tipicamente diferente, submisso à autoridade acadêmica, convencido de que a verdade se encontra, pronta e acabada, nos livros e na cabeça das autoridades”. Essa opinião revela a falta de um melhor preparo dos alunos e a ausência de iniciação científica no ensino básico, como promotora de criatividade e de abertura de novos caminhos na busca do saber e como formadora de consciência crítica perante os fatos.

O estudante não sabe o que fazer fora daquilo que lhe é ensinado na escola e aceita e submete-se a todas as informações que lhe são servidas prontas, sem discussão nem comprovação. Acaba tornando-se “massa de manobra” e de manipulação, nem crítico, nem criador.

Perini (1996) considera a pesquisa imprescindível na formação do estudante e diz que ela é a verdadeira fonte do conhecimento. Para o autor, a pesquisa “pretende, através da reconstrução do conhecimento, manter a inovação como processo permanente para poder agir na base do saber pensar”. O autor afirma ainda no mesmo texto que “a educação deverá ser, em primeiro lugar, a procura do conhecimento pelo desenvolvimento de habilidades”. E Demo (1998a, p. 30) completa: “O aluno-objeto é aquele que só escuta aula e a reproduz na prova, O aluno-sujeito é aquele que trabalha com o professor, participa ativamente”.

Serviram-nos ainda de fundamentação Vasconcellos (1995) e Franco (1989). Esses autores, com suas obras sobre educação, e muitos outros dão apoio e sobretudo segurança às ideias aqui expostas. Todos eles defendem uma urgente renovação da escola em seus métodos de ensinar e de preparar o aluno para desempenhar seu papel na sociedade como “sujeito histórico” para que, cedo ou tarde, seja integrado plenamente na comunidade e inserido no mercado de trabalho.

As contundentes palavras de quem escreveu sobre o assunto induzem-nos a refletir mais profundamente sobre as mudanças que a educação moderna vem exigindo, direcionadas para a existência de uma relação direta entre o que é ensinado e a vida prática do aluno.

Aos diretores de escolas e autoridades educacionais cabe decidir sobre a necessidade dessa renovação no ensino e da urgente capacitação dos professores — sobretudo daqueles que labutam denodadamente no ensino básico — e preparar um ambiente positivo de trabalho coletivo e de orientação motivadora.

Mais do que o ensino, a aplicação da pesquisa na escola conduz ao domínio das habilidades didáticas renovadoras pela discussão, pela leitura, pela observação, pela coleta de dados para comprovação de conjecturas sobre os fatos, pela análise criativa de deduções e conclusões e, sobretudo, pela reconstrução do conhecimento a partir daquilo que os alunos já sabem e da elaboração criativa pessoal, conjugando a teoria com a prática, uma vez que o processo reconstrutivo começa na busca e no questionamento pela pesquisa.

“É através da práxis que se educa” e “a educação é uma prática social” (Severino 1992, pp. 62 e 70).

Tudo na pesquisa elementar ou simples na escola primária funciona em torno de dois elementos: o assunto temático e os procedimentos para aprofundar o conhecimento, ou, em outras palavras, são elementos básicos o objeto a ser investigado e as ações que conduzem a investigá-lo. O tema, ou objeto, é o próprio cerne da pesquisa e o impulsionador de todas as atividades para explorá-lo, para descobrir outros aspectos de interesse. As conclusões que o aluno formulará revelarão seu espírito crítico diante do que estudou e viu de maneira diferente da costumeira, agora com olhos de pequeno cientista e ao mesmo tempo sentindo, de forma prática, como é possível se integrar melhor na sociedade de que faz parte.

Vê-se, assim, o quanto o trabalho com projetos desenvolve as habilidades técnicas dos alunos; percebe-se o quanto, além de facilitar a construção do conhecimento, esse trabalho é integrador do aluno no contexto em que vive, pela investigação e pela reflexão sobre a realidade, desenvolvendo nele uma consciência social e co-participativa.

Com base nessas considerações, justificam-se as propostas aqui apresentadas que visam, sobretudo, subsidiar os professores do ensino fundamental com um instrumento pedagógico valioso e dar sugestões na preparação de material para sua aplicação em sala de aula dentro determinados enfoques selecionados.

 

A organização do currículo escolar e os projetos

 

Sem um planejamento que apresente um projeto pedagógico bem elaborado, será difícil pôr em prática as ideias aqui apresentadas, pois é preciso planejar a sala de aula como local de reflexão e de experimentação, onde todas as atividades partam sempre de questionamentos conduzidos pelo professor.

O planejamento, segundo Turra (1975), “é um conjunto de ações coordenadas entre si, que concorrem para a obtenção de um certo resultado desejado”. O planejamento envolve a previsão metódica de atividades ou ações e a determinação de meios pelos quais elas serão realizadas na busca de determinado fim. Planejar é, pois, especificar para onde se vai, quais os meios para chegar lá e quais os resultados que se pretende conseguir. É, portanto, ainda de acordo com Turra (idem), “traçar caminhos, prever estratégias e atividades dos professores e dos alunos, na situação de ensino-aprendizagem, que possam conduzir ao conhecimento de algo e que possibilitem maior produtividade”.

O planejamento, como instrumento pedagógico de ação educativa, poderá com base em ideias, construir projetos simples que apresentem:

• temas para estudo que se relacionem aos conteúdos programados;

• objetivos que se deseja alcançar pela investigação;

• procedimentos a usar para chegar aos resultados almejados;

• atividades ou ações a cumprir, em certo tempo e lugar;

• resultados a esperar e a avaliar de acordo com os objetivos propostos.

 

As unidades de ensino podem se transformar em pequenos projetos interdisciplinares, cujos temas ou assuntos serão escolhidos da realidade vivida pelos alunos ou do interesse deles, ou mesmo colhidos dos conteúdos a serem ministrados. Dessa forma, o aluno será levado a conhecer os fatos, a procurar soluções para os problemas, a falar e a escrever sobre eles, mas, sobretudo, a vê-los de maneira inteligente e questionadora dentro dos contextos disciplinares e não isolados.

A prática pedagógica aqui apresentada só surtirá efeito se partir do projeto pedagógico local, que determina a linha de ação que se deseja desenvolver na escola a partir das respostas às questões:

• quem o realizará?

• por que será realizado?

• para que será realizado?

• como será realizado?

• quais os resultados a serem esperados?

 

Ele deverá estar moldado no projeto pedagógico e filosófico institucional, que terá como princípios básicos o tipo de homem que se quer formar e o crescimento intelectual do aluno como ser humano, vivendo em sociedade.

Todas as estratégias e atividades implementadas e executadas na escola deverão ser ao mesmo tempo vinculadas entre si, constituindo um todo num trabalho integrador mediante a investigação e a reflexão, e sempre orientadas para estes dois pólos: a construção do conhecimento dos alunos e a formação da cidadania na pessoa deles.

Dessa forma, o currículo escolar terá função humanizadora completa, facilitando a apropriação do conhecimento científico e do crescimento do ser humano.

Cada escola deverá construir seu projeto com a participação de seus membros segundo sua realidade local e o contexto em que atua. O projeto maior orientará o processo de ensino e aprendizagem, o qual não será uma coisa empírica, mas configurada como um conjunto de atividades inter-relacionadas e práticas, envolvendo temas sobre os quais se desenvolverão atividades pedagógicas embasadas num suporte teórico e destinadas a alcançar o conhecimento.

Cada área de ensino pode ser transformada em uma unidade desenvolvida como projeto, tendo como base a realidade, as necessidades e as vivências dos alunos por meio destes dois instrumentos:

 

macroprojeto, envolvendo a escola como um todo — cada classe/série/ano dará sua parcela de participação por meio do estudo contextualizado das disciplinas;

miniprojetos, restritos a uma sala de aula — todos os alunos trabalharão um núcleo temático, para aprofundar seu estudo.

 

Dentro de cada unidade, as atividades seguirão o modelo científico atual, que consta de: conceitos propostos com base em observações; questionamento e predições; pesquisas, experimentações e reflexões; e conclusões lógicas aplicáveis. Esse modelo está em uso desde os tempos de Galileu e ensina a ver o mundo de maneira inteligente e crítica, e não apenas a aceitá-lo como é, sem discuti-lo.

Qualquer proposta pedagógica voltada para o trabalho de pesquisa do aluno deverá objetivar fundamentalmente:

·       desenvolver na escola o uso de um método de estudo cativante, extremamente útil e de fácil aplicação dentro da sala de aula;

·       orientar os professores na organização e no desenvolvimento de miniprojetos de investigação que levem os alunos ao melhor conhecimento dos fatos da realidade perceptiva;

·       propor situações-problema ou temas que funcionem como impulsionadores e motivadores na descoberta de novos conhecimentos;

·       transformar a sala de aula em laboratório, onde tudo deve ser questionado, analisado e avaliado;

·       estimular os professores a dinamizar o ensino pelo aprofundamento da aprendizagem na qual os alunos sejam os principais agentes;

·       oferecer oportunidades para que os alunos manifestem sua criatividade em pequenas propostas de estudo interdisciplinar, possibilitando-lhes, assim, conhecer melhor o mundo em que vivem; formar seus próprios conceitos e juízos sobre as coisas; assumir atitudes de responsabilidade; agir cooperativamente; interagir com os outros.

 

Os projetos podem ser realizados coletivamente, podendo-se ater a consultas bibliográficas, entrevistas, excursões com relatos, estudos de coisas da vida diária para, por meio deles, construir novos saberes.

Esse modelo de investigação ou de pesquisa aqui mostrado pode partir de duas atitudes: a indutiva, pela qual o estudo parte da observação da situação-problema, tirando-se dela conclusões; a dedutiva, que parte de formulações conceituais e proposições para comprová-las ou testá-las pela observação dos fatos. De acordo com a orientação que o professor quiser dar, ambas as atitudes poderão ser adotadas concomitantemente.

Pelo processo indutivo, explica-se ao aluno que ele poderá partir da observação dos fatos, formulando hipóteses, dizendo o que sabe sobre eles e suas causas, e depois procurando dados e informações para confirmar se suas respostas ou opiniões são verídicas ou não. Por exemplo: saber por que a garrafa de bebida tirada da geladeira fica coberta de gotinhas; descobrir por que essas gotinhas aparecem, de onde vêm, se isso acontece com qualquer bebida etc. O aluno responderá como acha que isso acontece — serão suas hipóteses. Depois pesquisará informações para ver se suas respostas estão certas. Outros exemplos: saber por que quando somos vacinados contra alguma doença, pela vacina são injetados em nós vírus dessa mesma doença; ou ainda por que as frutas ou carnes apodrecem, quando ficam fora da geladeira.

Pelo processo dedutivo, o aluno começa a pesquisa tendo por base uma teoria ou lei que já se conhece como certa; ele irá investigar ou fenômenos para testá-la e saber se realmente ela pode ser aplicada a todos os fatos semelhantes. Por exemplo: partindo de um princípio já aceito — como, por exemplo, “Qualquer criança que trabalha tem sono cm sala de aula e portanto tem dificuldade em estudar”—, ele investigará fatos ou situações que comprovem essa tese. Provavelmente deduzirá que isso acontece pelo fato de a criança sentir cansaço, não ter tempo, alimentar-se mal, ajudar os pais, cuidar dos irmãos menores etc.

Ao final da pesquisa deverá ser feita uma avaliação, visando julgar a maneira como foi executada a pesquisa — sua adequação e os resultados obtidos em relação aos conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais — e analisar as vantagens e os resultados, tendo em vista os objetivos do trabalho: o que os alunos fizeram; como fizeram; que conhecimentos novos adquiriram sobre o assunto; como superaram as dificuldades que tiveram.

Qualquer que seja a atitude assumida ou a forma usada no processo de ensino e aprendizagem, é sempre bom lembrar que os trabalhos com projetos de pesquisa são estratégias pedagógicas flexíveis e independem de modelos ou protótipos preestabelecidos, podendo ser adaptados e transformados a critério de quem os usa.

As vantagens, contudo, serão logo sentidas após as primeiras experiências, quando o professor e mesmo as famílias perceberão:

·       a motivação e a vontade dos alunos na busca de informações e dados para conhecerem melhor aquilo que pesquisam;

·       a interação e o intercâmbio entre eles, com partilha de responsabilidades nas equipes que realizam as tarefas;

·       as transformações sentidas nas salas de aula, consideradas laboratórios de experiências e de mostruários;

·       o despertar de contínuas questões sobre os fatos ou problemas a estudar, levando-os sempre a querer saber mais sobre o assunto;

·       a vontade dos alunos de mostrar aos demais colegas da escola, por meio de seminários, murais, debates, desenhos etc., os resultados alcançados.

 

O papel do professor no trabalho com projetos

 

O professor é peça insubstituível no trabalho de pesquisa. O projeto funcionará bem ou mal, de acordo com a atuação do professor e a assistência que ele der à elaboração da pesquisa e ao desenrolar das ações.

Atualmente não se concebe mais o professor como simples informante para o aluno. Ele passou a ser considerado o orientador, o propulsionador das atividades e o estimulador do aluno. Educar não é mais simples troca de informações ou de saberes: é conduzir o aluno à descoberta, à construção de conhecimentos que o privilegiem na transformação do mundo em que vive, O ensino tem que ser atividade direcionada para a autoaprendizagem a partir daquilo que o aluno já sabe, do que vai descobrir, criticar e aceitar, como também, decorrência da interação com o professor e os colegas.

Dessa forma, o ensino é transformado — numa busca daquilo que não se sabe e se quer saber — em pesquisa, em investigação. O professor precisa se convencer de que ciência é pesquisa e não mera aprendizagem, nem imposição de saberes. É evidente a importância do papel do professor no ensino, mas essa importância depende de sua qualificação na busca da modernidade pedagógica, da renovação de sua capacitação, de sua atualização constante em treinamentos de aperfeiçoamento profissional.

Os cursos de renovação pedagógica frequentes possibilitam exercitar a didática do “aprender a aprender” apoiada na devida teorização. O professor não deve esquecer que no mundo atual o que prevalece, acima de tudo, é o conhecimento e as competências que decorrem da renovação da educação e do uso de métodos voltados para a descoberta e a investigação. Ele, como formador principal nessa estratégia pedagógica, é a peça-chave do processo na construção das condições propedêuticas adequadas do saber pensar, pesquisar, teorizar a prática, tanto pelo seu domínio dos conteúdos como pela adoção de atividades inovadoras que procurará estimular. Dessa forma, conseguirá ser aquele que supera os esquemas antigos de ensinar apenas transmitindo conhecimentos, repetindo, copiando, passando a ser aquele que acredita na capacidade criativa do aluno fundada na pesquisa, na sua elaboração própria de saberes que o preparem para as oportunidades práticas da vida.

Porém, para atingir essa condição, o professor terá de colaborar e adaptar-se a novas sistemáticas educacionais, deixando de se considerar o “tradicional mestre sabe-tudo”, o centro e a convergência das atenções, para esquecer-se de si mesmo e tornar-se o guia, o facilitador da aprendizagem. Deverá tornar-se um especialista na descoberta de estratégias didáticas, convencendo-se de que apenas usar o vídeo, slides ou trabalho em grupo não significa modernizar-se ou renovar-se pedagogicamente.

Não resta a menor dúvida de que, na atual conjuntura, para implantar esses procedimentos metodológicos renovados será preciso repensar, além da capacitação e do papel dos professores, as condições da escola, que talvez ainda viva e esteja arraigada aos velhos problemas relacionados ao processo de ensino e aprendizagem: informar, copiar, decorar, cobrar pela avaliação.

Para tanto, torna-se indispensável requalificar professores que tenham disposição e vontade de trabalhar com métodos renovados e que estejam dispostos a quebrar tabus na tarefa educacional, que queiram mudar a antiga mentalidade e aceitar inovações destinadas a provocar nos alunos respostas para as necessidades e interesses da nova sociedade em que viverão. Professores que procurem fazer a escola aproximar a teoria da práxis e preocupar-se com a vida, a origem, a cultura popular, o meio ambiente, as experiências vivenciadas pelos alunos, fazendo disso tudo o ponto de partida de práticas úteis ao aprendizado. Professores que deixem de ludo as teorias e as ideias conservadoras e tradicionais e se transformem em multiplicadores e mestres capazes de reconhecer que eles e os alunos não estão no mesmo nível de conhecimento e que o ponto de partida do ensino não deve ser o que eles sabem, mas o que os alunos sabem empiricamente, e sobre isso construir novos conhecimentos.

Portanto, o que se quer é um processo renovado de ensinar que tenha sempre o questionamento como guia da descoberta de novos caminhos que representem uma nova atividade docente — a metodologia investigativa.

Lembre-se o professor de que há duas metodologias predominantes nas escolas: a metodologia das superficialidades, que se baseia no saber do senso comum, na intuição e na improvisação do professor, em seu jeito de expor, copiar e cobrar; e a metodologia científica, baseada nos métodos da investigação pelo questionamento, das hipóteses como respostas provisórias, da comprovação do que se afirma e a da experimentação dos fatos.

Partindo do pressuposto de que uma pesquisa realizada como atividade pedagógica em sala de aula possibilita desenvolver o conhecimento pelo estudo e pelo aprofundamento, torna-se necessário que o professor se prepare para saber aplicar essa atividade. Para isso, é fundamental que ele leia muito sobre a viabilidade de trabalhar com projetos; interesse-se muito pelas estratégias a empregar; crie e invente formas novas para conseguir melhor aproveitamento; não dê respostas prontas aos alunos, matando-lhes a curiosidade, decepando pela raiz a beleza da pesquisa; não desanime diante das pequenas dificuldades que surgirão.

Ao conhecer bem a maneira de aplicar a pesquisa como atividade escolar, é preciso que o professor:

·       estimule sempre a curiosidade natural dos alunos, explicando-lhes como se deve proceder diante de fatos que se quer conhecer;

·       induza-os à descoberta de soluções, ou de informações, pela leitura e pela reflexão sobre os aspectos temáticos selecionados;

·       aplique meios simples para que eles possam chegar às informações de que precisam;

·       faça a devida adequação dos temas ou assuntos a serem pesquisados à faixa etária dos alunos;

·       nunca deixe que os resultados de uma pesquisa feita pelos alunos fiquem esquecidos ou escondidos, mas os estimule a fazer outras, promovendo relatos, apresentação oral para toda a classe, exposição no mural dos resultados obtidos.

 

O professor deve sempre ter em mente que a ciência nasce com o problema que o homem encontra; que o problema tem que ser resolvido pelo próprio homem; que o objetivo da pesquisa é sempre procurar a solução do problema; que a solução do problema é o próprio conhecimento construído.

 

Para achar a solução de qualquer problema há dois caminhos: o do senso comum ou empírico, que é assistemático, nasce de tentativas, não procura as causas, é individualizado, não questiona; e o dos métodos científicos, que é organizado, experimental, baseia-se em hipóteses, em comprovações, em análises críticas e deduções.

 

Referência

MARTINS, Jorge Santos. O trabalho com projetos de pesquisa: do ensino fundamental ao ensino médio. Campinas, SP: Papirus, 2001. p.31-55

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Os projetos são excelentes situações para que os alunos produzam textos de forma contextualizada — além do que, dependendo de como se organizam, exigem leitura, escuta de leituras, produção de textos orais, estudo, pesquisa ou outras atividades. Podem ser de curta ou média duração, envolver ou não outras áreas do conhecimento e resultar em diferentes produtos: uma coletânea de textos de um mesmo gênero (poemas, contos de assombração ou de fadas, lendas, etc.), um livro sobre um tema pesquisado, uma revista sobre vários temas estudados, um mural, uma cartilha sobre cuidados com a saúde, um jornal mensal, um folheto informativo, um panfleto, os cartazes de divulgação de uma festa na escola ou um único cartaz. (BRASIL. PCN: Língua portuguesa. 1997, p.70/71)

PCN

Os projetos, além de oferecerem reais condições de produção de textos escritos, carregam exigências de grande valor pedagógico. (BRASIL. PCN: Língua portuguesa. 1997, p.71)

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[...] por intermédio dos projetos é possível uma intersecção entre conteúdos de diferentes áreas: por outro lado, há os projetos da área de Língua Portuguesa que, em função do objetivo de trabalhar com textos informativos, privilegiam assuntos de outras áreas, dos temas transversais, por exemplo. Por outro lado, no ensino das outras áreas, é imprescindível que se faça uso do registro escrito como recurso de documentação e de estudo. Esse registro pode resultar na elaboração de portadores de textos específicos, ao final ou durante o trabalho. Por exemplo: fazer um diário de viagem (pelos lugares que estão sendo estudados); elaborar uma cartilha sobre o que é a coleta seletiva do lixo, sua importância e instruções para realização; escrever um livro sobre as grandes navegações; ou um panfleto com estatísticas a respeito de um assunto discutido; (BRASIL. PCN: Língua portuguesa. 1997, p.72)

PCN

Os projetos favorecem o necessário compromisso do aluno com sua própria aprendizagem. O fato de o objetivo ser compartilhado, desde o início, e de haver um produto final em torno do qual o trabalho de todos se organiza, contribui muito mais para o engajamento do aluno nas tarefas como um todo, do que quando essas são definidas pelo professor; determinadas práticas habituais que não fazem qualquer sentido quando trabalhadas de forma descontextualizada podem ganhar significado no interior dos projetos: a cópia, o ditado, a produção coletiva de textos, a correção exaustiva do produto final, a exigência de uma ortografia impecável, etc. (BRASIL. PCN: Língua portuguesa. 1997,p.72/73)

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Entre os principais recursos que precisam estar disponíveis na escola para viabilizar a proposta didática da área, estão os textos autênticos. A utilização de textos autênticos pressupõe cuidado com a manutenção de suas características gráficas: formatação, paginação, diferentes elementos utilizados para atribuição de sentido — como fotografias, desenhos gráficos, ilustrações, etc. Da mesma forma, é importante que esses textos, sempre que possível, sejam trazidos para a sala de aula nos seus portadores de origem (ainda que em algumas situações possam ser agrupados segundo gênero ou tema, por exemplo, para atender a necessidades específicas dos projetos de estudo). (BRASIL. PCN: Língua portuguesa. 1997, p.91)

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Na biblioteca escolar é necessário que sejam colocados à disposição dos alunos textos dos mais variados gêneros, respeitados os seus portadores: livros de contos, romances, poesia, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em quadrinhos, de palavras cruzadas e outros jogos), livros de consulta das diversas áreas do conhecimento, almanaques, revistas de literatura de cordel, textos gravados em áudio e em vídeo, entre outros. Além dos materiais impressos que se pode adquirir no mercado, também aqueles que são produzidos pelos alunos — produtos dos mais variados projetos de estudo — podem compor o acervo da biblioteca escolar: coletâneas de contos, trava-línguas, piadas, brincadeiras e jogos infantis, livros de narrativas ficcionais, dossiês sobre assuntos específicos, diários de viagens, revistas, jornais, etc. (BRASIL. PCN: Língua portuguesa. 1997, p.92)

PCN

Desde o primeiro ciclo é preciso que os alunos leiam diferentes textos que circulam socialmente. A seleção do material de leitura deve ter como critérios: a variedade de gêneros, a possibilidade de o conteúdo interessar, o atendimento aos projetos de estudo e pesquisa das demais áreas, o subsídio aos projetos da própria área. Por exemplo, para o desenvolvimento de uma proposta de produção de um diário sobre uma viagem imaginária, é importante que se leiam diferentes materiais: textos informativos sobre como se pode chegar ao lugar escolhido, como é a fauna e a flora da região, qual a localização geográfica do continente, qual o clima, quais roupas são adequadas para o trajeto, qual o tempo de duração da viagem e o meio de transporte escolhido, etc. Também é importante que se leiam textos como os encontrados num diário, para aprender como são escritos, caso a classe tenha conhecimento insuficiente do gênero para produzi-lo. (BRASIL. PCN: Língua portuguesa. 1997, p.106)

PAULO RENATO SOUZA

Estamos certos de que os Parâmetros serão instrumento útil no apoio às discussões pedagógicas em sua escola, na elaboração de projetos educativos, no planejamento das aulas, na reflexão sobre a prática educativa e na análise do material didático. E esperamos, por meio deles, estar contribuindo para a sua atualização profissional — um direito seu e, afinal, um dever do Estado. Paulo Renato Souza Ministro da Educação e do Desporto (BRASIL. PCN. 1997)

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